terça-feira, 21 de maio de 2013

Estudo aponta alternativa para o tratamento de doenças auto-imunes (lupus, esclerose múltipla, diabetes do tipo 1, tireoidite e artritereumatóite, entre outras)

 



UFRJ pesquisa planta que inibe a produção de anticorpos

O estudo aponta alternativa para o tratamento de doenças auto-imunes
 

Por Isabella Guerreiro*

Sabe aquele chá que a sua avó faz para curar algum mal-estar? Ele pode funcionar.Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba estudam a planta C issampelos sympodialis

Eich (Menispermaceae), conhecida como Milona,  encontrada no nordeste e no sudeste doBrasil, cujo chá é muito usado na medicina popular para o tratamento de doenças inflamatórias (bronquite e asma) e alergias. 
As pesquisas realizadas pelo Laboratório deTecnologia Farmacêutica (LTF) da UFPB comprovaram que a Milona regula a resposta imunee tem ação antiinflamatória. 
O LTF já produziu dois medicamentos a partir da planta para combater a asma, e insulina, para diabetes, que estão em fase de teste clínico. 
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também realiza pesquisas com oextrato da folha de C. sympodialis, enviado pela Universidade da Paraíba. O objetivo do Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto de
Microbiologia Professor Paulo de Goés(IMPPG) da UFRJ é verificar se a warifteína (substância predominante na composição doextrato) é o composto responsável pela ação curativa da planta. Lígia Maria Torres Peçanha, doutora em imunologia e professora do departamento de imunologia do IMPPG da UFRJ há 10 anos, e a estudante de Microbiologia e Imunologia da UFRJ Juliana Dutra Barbosa da Rocha pesquisam o efeito do alcalóide warifteína, isolado do extrato da folha de

C. sympodialis, sobre oslinfócitos B, células de defesa do corpo humano,desde 2003
Os estudos já realizados provaram que awarifteína inibe as funções das células B, modulando a resposta do sistema  de defesa do organismo humano, e  pode  ser  utilizada  para  o t ratamento   de doenças auto-imunes, como lupus, esclerose múltipla, diabetes do tipo 1, tireoidite e artritereumatóite, entre outras

(ver quadro)

.A pesquisa constatou que a warifteína inibe a proliferação dos linfócitos B e a secreção de anticorpos (substância que defende o corpo contra microorganismos agressores). Por isso,o uso do alcalóide pode ajudar a controlar a produção exacerbada de anticorpos em portadores  de determinadas   doenças   auto-imunes.  
Estas doenças usam os anticorpos do organismo contra   suas próprias células, destruindo partes do corpo, o que pode levar à morte. 
Não se sabe como estas moléstias se desenvolvem e nem como curá-las.
O tratamento é feito com medicamentos chamados corticóides. É uma terapia cara e que provoca efeitos colaterais.



LINFÓCITOS

São células de defesa. Suas funções são: identificar os microorganismos que entram no corpo humano, reconhecer se este é perigoso ao organismo, definir se o micróbio deve ou não ser eliminadoe memorizar suas características para o caso de reincidência da infecção.

 

Há dois tipos de linfócitos: linfócitos T e linfócitos B. Os primeiros comandam a resposta dosistema imunitário e ativam as células B. Os linfócitos, além de circularem no sangue, estacionam-seem alguns órgãos, como os gânglios linfáticos, as amídalas, o baço e o intestino.

Linfócitos   B   

* 5 a 15% dos linfócitos circulantes;    

função: produzir anticorpos (proteínas denominadas imunoglobulinas) contraum determinado agressor;
quando em repouso, os linfócitos B não produzem anticorpos, só o fazem  quando estão ativado

 Plasmócito é a denominação da célula B quando ativa. A tarefa dos plasmócitos na resposta imuneé secretar anticorpos específicos para cada antígeno (microorganismo estranho ao corpo).


A estudante Daniele da Silva Marins, 23 anos, descobriu que tinha lupus há três anos.Ela se trata com corticosteróide e inalantes que provocam aumento   de   peso   e   queda   de    cabelo. O custo mensal dos medicamentos é alto: 150 Reais.

Métodos de Pesquisa

O laboratório de imunoparasitologiada UFRJ fez experimentos

in vitro (comsubstâncias e células isoladas em laboratório) e invivo
(comcamundongos). Foram utilizados dois métodos para a experimentação

in vitro
1) noprimeirométodoforamisolados linfócitos B decamundongos, separando ascélulas que já tiveram contatocom o antígeno das que nãotiveram. Os linfócitos usadossão aqueles que ainda nãotiveram contato com antígenos.
In vitro

a proliferação dascélulas B é induzida por LPS(lipopolisacarídeos que estão presentes em bactérias), isto é, éuma simulação de doença bacteriana. Nesta cultura,observou-se que, em presençado composto warifteína, a proliferação dos linfócitos B erainibida.

2) o segundo método utilizado foio ensaio imunoenzimático(ELISA - Enzime LinkedImmunosorbent Assays), muitoutilizado para diagnosticar ainfecção pelo vírus da AIDS(HIV). Este teste permitequantificar a inibição deanticorpos pela warifteína, poisa interação de células na culturalibera uma coloração. Em presença do alcalóide, aalteração de cor é pequena, oque indica que a produção deanticorpos foi impedida.A experiência

in vivo,

realizada comcamundongos, tinha como objetivoverificar se a droga produz resultado emseres vivos e em qual momento daativação dos linfócitos B a warifteínateria efeito. Foi constatado que a ação

O que são doenças auto-imunes?


São doenças que identificam algumas células do próprio organismo como antígenos e induzem as células dosistema imunológico (linfócitos, monócitos, neutrófilos emacrófagos) a atacá-las. É como se o corpo humano setornasse “alérgico” a ele mesmo.


inibitória da substância ocorre mesmo quando a droga é adicionada em etapas mais tardias do processo de resposta imune da célula.Experimentos também comprovaram que a warifteína realmente inibe os linfócitos B e não os induz à morte, o que torna a droga viável para o tratamento de doenças auto-imunes em seres humanos.
Além disso, a ação inibitória persistiu por até 48 horas.
 

Dificuldades da Pesquisa
 

Algumas das dificuldades enfrentadas na pesquisa, de acordo com a Drª Lígia MariaPeçanha, foi a formação de colaborações, pois não é possível realizar todas as etapas sozinha.Por exemplo, é preciso ajuda de outras pessoas para a produção da planta e para a purificação da droga. Além disso, existem as dificuldades financeiras que a maioria das pesquisas brasileiras atravessam devido ao financiamento de órgãos burocráticos como CNPq e FAPERJ.
 

Perspectivas
A partir dos resultados, surgem novas linhas de estudo. O próximo passo é descobrir deque maneira a warifteína inibe a proliferação dos linfócitos B e se a substância atua em outras células do sistema imunológico. A UFRJ já iniciou pesquisa que estudará a ação do alcalóide sobre os neutrófilos (espécie de “infantaria” da defesa do organismo: são estas células as primeiras a chegarem no local da infecção) e verificará se a warifteína impede a ida destas células para a área infeccionada.Sobre a utilização da warifteína em remédios, a Drª Lígia Maria Peçanha explica que é possível o uso da substância em fármacos para o tratamento de doenças de caráter auto-imune. com exarcebada produção de anticorpos, porém é necessária a realização de mais pesquisas que confirmem a ação da droga e uma série de testes clínicos para comprovar sua eficácia.Daniele Marins, portadora de lupus, afirma que: — Sinceramente acredito que a cura para doenças auto-imunes ainda está longe, visto queaté mesmo o tratamento é feito de maneira individualizada. Mas, vejo a pesquisa da UFRJ como uma alternativa que está por surgir.A
Cissampelos sympodialis não é patenteada, porém como já foram publicados artigossobre a planta, ela já se tornou de domínio público.O Brasil tem a maior Bio diversidade do mundo (55 mil espécies de plantas catalogadas e uma estimativa de 350 mil a 550 mil espécies não catalogadas). Pesquisas como as realizadas pela a Universidade da Paraíba e pela UFRJ são importantes porque permitem que sejam desenvolvidos fármacos que reduzama dependência do país a remédios importados. O estudo sobre os produtos naturais nacionais e seus derivados também contribui para a permanência da patente do que ainda não foi descoberto em solo brasileiro.O mercado mundial de medicamentos originados de plantas movimenta anualmente cerca de 60 bilhões de dólares


Principais doenças auto-imunes:

Esclerose Múltipla:

afeta adultos jovens. A doença resultado ataque dos linfócitos T e anticorpos contra células do sistema nervoso. Provoca a diminuição da visão, problemas na coordenação motora e alterações na percepção sensorial. No Brasil, há um caso da doença paracada 10 mil pessoas, sendo mais comum entre as mulheres.

Diabetes mellitus insulino–dependente(DMID):


é conhecida por diabete juvenil ou do tipo 1. Nesta doença,os anticorpos destroem as células beta do pâncreas que secretam insulina. Atualmente, os pacientes com DMID são tratados com doses diárias de insulina, e apesar desta reposição hormonal permitir sua sobrevida, há possibilidade da ocorrência de doenças degenerativas dos rins, vasos e retina.

Doença de Grave e Tireoidite:
ambas são doenças auto-imune da tireóide. Na doença de Grave, o sistema imunológico induz a produção do hormônio estimulador da glândula, causando hipertireoidismo. Já na Tireoidite (ouTireóide de Hashimoto), os anticorpos atacam uma ou mais proteínas comuns das células tireóides. A destruição resultante da glândula causa o hipotiroidismo.

Artrite Reumatóite:
afeta cerca de 1% da população mundial e é caracterizada pela progressiva destruição das articulações pelas constantes inflamações provocadas pelas células imunológicas que se infiltram nas juntas.
 

Lupus Eritematoso Sistêmico(LES):
o nome é devido às erupções avermelhadas que aparecem na face durante afase final da doença. Diferentemente de outras moléstias auto-imunes, o LES atua em vários órgãos e sistemas distribuídos pelo corpo, incluindo o sistema nervoso central, rins e coração. Nestes pacientes, os anticorpos sedirigem contra componentes protéicos dos núcleos das células, e, mais freqüentemente, a dupla hélice do DNA.

Hepatite auto-imune:

é uma doença em que as células do fígado são reconhecidas como estranhas ao organismo e destruídas pelo sistema imunológico.



 *Estudante de Jornalismo da UFRJ ( Isabellamg@ig.com.br )
Fonte Ministério da Saúde
http://pt.scribd.com/doc/2976520/UFRJ-pesquisa-planta-que-inibe-a-producao-de-anticorpos 

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